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Um Dia

Acho que não é novidade para ninguém que hoje faz 30 anos que Elis Regina morreu e que todo mundo que mora no Brasil já ouviu pelo menos uma vez na vida uma música na voz dela.
Por conta de datas redondas como essa, os principais jornais do país, emissoras de TV, rádio e até sites resolveram prestar sua homenagem – e se aproveitar disso atrair mais leitores e audiência, usando a desculpa de que precisa falar da importância da maior cantora do país na Música Popular Brasileira.
Essa iniciativa poderia ser realmente apenas um gesto de incentivo à cultura, mas infelizmente não é. Se a mídia quer tanto ressaltar a importância de Elis Regina na música, porque só se lembrou de apresentá-la ao público quando fez 5, 10, 15, 20, 25 e agora 30 anos de sua morte? E porque também dá mais destaque ao lançamento de CDs remasterizados do que a própria história da cantora?
Isso é algo que precisa ser repensado com urgência, antes que as pessoas esqueçam de vez que por trás de CDs, shows e matérias de jornal e TV existiu uma pessoa que além de ter de ser respeitada por sua obra, não merece ser usada apenas para obter lucros.
Outra coisa que me incomoda bastante nessas “homenagens” prestadas é a escolha das músicas que são citadas, pois embora ela tenha deixado um imenso repertório disponível, sempre as mesmas músicas são escolhidas. Tudo bem que Como Nossos Pais, Arrastão, Romaria e O Bêbado e a Equilibrista são músicas maravilhosas, foram grandes sucessos de sua carreira e a maioria das pessoas já conhece, mas o problema é que há muitas músicas que deveriam ser conhecidas e não recebem o valor que mereciam por conta dessa falta de espaço.
Um bom exemplo disso é a homenagem prestada por Nelson Motta na semana passada,  em sua coluna do Jornal da Globo. Pra quem foi produtor de discos de Elis e ainda afirma que teve um relacionamento amoroso com ela, achei que muita coisa não foi dita e que o critério na escolha das músicas não foi bom, pois não havia necessidade de se falar tanto do LP Em Pleno Verão, que Nelson Motta produziu.
Em vez de dar tanta ênfase em trabalhos que ele produziu e em especiais da globo, ele deveria ter contado lembranças que tem dela, o que com certeza, além de chamar a atenção do público, estimularia as pessoas a procurarem saber quem foi essa mulher.
E falando em lembranças, agora chegou a hora de contar as minhas: eu conheci mesmo a obra de Elis através da carreira de Maria Rita, pois eu só assisti ao Por Toda Minha Vida porque morria de curiosidade para saber se eu conhecia alguma música da mãe dela.
Assistindo ao especial, descobri que não só conhecia várias das músicas como gostava de boa parte delas desde que era pequena, e que inclusive me lembrava de quando as ouvi pela primeira vez. Desse grupo de músicas de Elis Regina que me acompanham desde menina, três se destacam na minha memória: Como Nossos Pais, Me Deixas Louca e Redescobrir.
Quando passou a novela Estrela Guia, em 2001, eu, como boa fã de Sandy e Júnior, não só assistia à novela como não descansei até ganhar o cd da trilha sonora. Ao ver os nomes dos cantores na contracapa, eis que me deparei com um nome que nunca havia visto antes: Elis Regina. Eu, que naquela época tinha 9 anos, não imaginava que aquele nome se tornaria tão comum na minha vida alguns anos depois.
Até então, apesar de adorar coisas que faziam sucesso naquele tempo como Sandy e Júnior, Chaves e Chiquititas, eu não era uma “fã de verdade”, daquelas que sabe tudo sobre a vida do artista. Talvez porque me faltasse algo que eu realmente pudesse admirar naquelas coisas todas que faziam sucesso. Algo que me fizesse sentir fascinação.
Ao ouvir Como Nossos Pais pela primeira vez, eu não gostei da música porque além de não se parecer com nada a que eu estava acostumada, eu não conseguia entender praticamente nada da letra. E assim foi meu primeiro “contato oficial” com a obra de Elis Regina.
Entretanto, a voz da cantora me chamou bastante atenção por ser bonita e diferente das cantoras que eu conhecia. E também porque eu tive a sensação de que já conhecia aquela voz, o que era pouco provável porque, além de não ser comum uma menina de 9 anos ouvir esse tipo de música, já não se tocava muitas músicas de Elis e, também, eu não sabia, mas havia quase 20 anos que aquela cantora havia morrido. E  que apesar de gostar tanto de suas músicas, eu nem ao menos cheguei a viver no mesmo mundo que ela...
Alguns anos depois, eu descobri que realmente conhecia aquela voz, quando também descobri que aquela era a mesma cantora de Me Deixas Louca, Alô Alô Marciano, Romaria, Redescobrir, O que foi feito devera...
Me Deixas Louca me faz voltar ao ano de 2003, quando ainda estudava no Colégio Militar e, como ia de carona com uma professora que era fã de Elis, várias vezes ouvi essa música no carro dela. Mas uma vez, eu tinha a sensação de conhecia aquela voz de algum lugar, sem perceber que aquela era a mesma voz de Como Nossos Pais.  
Mas, como eu disse alguns parágrafos acima, Como Nossos Pais foi meu primeiro contato oficial com Elis Regina, mas não foi o primeiro na realidade. A minha história com ela começou em dezembro de 1996, quando eu tinha 5 anos. Naquela época, uma música cantada por ela em 1980, Redescobrir, era o tema de abertura de uma novela do SBT, chamada Razão de Viver.
Me lembro que no dia do penúltimo capítulo dessa novela, de tarde, o rádio estava ligado e eu estava brincando, quando de repente, começou a tocar essa música: “Como se fora brincadeira de roda/ memória/ jogo do trabalho na dança das mãos/ magia...”
 Eu não sei explicar se foi por causa da letra ou pela voz, mas eu parei de brincar e fiquei na frente do rádio ouvindo aquela música, que mesmo sem saber quem cantava, ficou marcada na minha memória desde aquele 5 de dezembro de 1996, quando eu ouvi pela primeira vez aquela que ainda hoje é a minha música preferida.
E é por esse motivo que a música que eu escolhi pra hoje, que faz parte das 30 músicas de Elis Regina que entraram para a história, é  Redescobrir.

Composta por Gonzaguinha, Redescobrir fez parte do repertório do show e do último LP lançado antes da morte de Elis Regina, Saudade do Brasil, de 1980, pois o LP Trem Azul, o último gravado em estúdio, infelizmente foi lançado após a morte da cantora, exatamente há 30 anos.
Além disso, Redescobrir, cujo vídeo está abaixo, foi a última música do repertório do especial Série Grandes Nomes “Elis Regina Carvalho Costa”, exibido pela Rede Globo em 3 de Outubro de 1980.


Comentários

  1. Agora será bem comum falar da Elis, e depois esquecer do ícone musical que ela foi e ainda é. Ainda falta muito fã de verdade como você, Deborah! Parabéns por isso!

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